Há alguns dias, fui o protagonista da estória mais bizarra que já experimentei. e confesso ,até agora não consegui compreender, absolver nem processar os fatos que venho vivendo desde a manhã do domingo 13 de junho.
Noite de sábado, dia de extravasar as tensões e angústias da semana e se divertir. Ainda mais sendo dia dos namorados e eu solteiro.
Saí com um amigo e fomos para a balada de sempre. Lá pelas tantas da madruga resolvemos iniciar a nossa via crucis pela noite paulistana e fomos andando pela paulicéia louca e desvairada, até pararmos no nosso buteco preferido na Consolação, Chamado Bonecas Bar.
Logo na entrada deparei-me com uma pessoa de uma beleza ímpar , porém como os antigos dizem, que quem vê cara não vê coração...
Em pouco tempo estabeleci um contato com esse estranho sedutor e ali , o que seria um sonho de uma noite de outono se transformou num verdadeiro pesadelo com direito a todas as mazelas, parando até no distrito policial mais próximo da minha residência.
Ao longo do nosso " encantador" contato, fui percebendo uma série de afinidades com tal sujeito o qual se apresentou pelo pseudo nome de Luiz Marcelina , até apresentou a carteira de habilitação , o que desconfio agora que poderia ser documento falso. A conversa fluía animada, a empatia foi rápida. Quem poderia suspeitar que um cara boa pinta, bonitão, vamos lá ainda não dei a descrição do tal sujeito: em torno de 1m90 de altura, corpo magro, bem definido, traços negros , rosto levemente arredondado, com uma lábia assustadora, sabe aquele típico homem que a sua mãe daria tudo para tê-lo como genro? Então ... agora dá para entender como um ser afundado numa crise tremenda de carência afetiva pode cair nas garras de um ser desta natureza...
Lá pelas tantas da madruga, surge aquele convite que já estávamos aguardando, tomei coragem e convidei o tal sujeito misterioso para esticar a noite ou melhor a madrugada no meu apartamento.
Bingo, a ovelha caiu na cilada do lobo!
Pedi um momento e fui avisar o meu amigo que iria para casa com o "Luiz" e que estava tudo bem. Meu amigo ainda tentou me trazer para a realidade, mas foi em vão.
Tomado por uma estranha química, desci a Rua da Consolação conversando todo e qualquer tipo de assunto com ele , o que me deixava mais encantado ainda.
Cheguei em casa, deixei o Luis na sala , troquei de roupa e logo na seqüência peguei duas latas de cerveja e fui ao banheiro.
O que aconteceu em seguida, não consigo lembrar até agora. Quando acordei já passava das 23 horas e percebi que a minha casa estava toda revirada. Comecei a contabilizar o prejuízo e ai sim acordei para o que tinha acontecido: Acabara de ser vítima do famoso e antigo golpe Boa Noite Cinderela.
Veio um sentimento de culpa, raiva, desespero e não conseguia pensar no que deveria fazer.
Consegui ligar para o meu amigo e aos prantos relatei toda a situação.
Já um pouco mais calmo, fui para o 4º Distrito Policial da Consolação onde foi lavrado Boletim de Ocorrência, cancelei o cartão bancário, mas isso foi tarde, pois o sujeito conseguiu limpar tudo o que tinha.
A primeira semana pós golpe foi uma semana estranha, com muitos questionamentos sobre o que o fato. E a primeira conclusão importante era agradecer pelo simples fato de "ESTAR VIVO". Isso realmente é algo à agradecer a Deus, pois como conversei com os amigos mais próximos , poderia não ter saído vivo deste episódio. É claro que sentimos pelo lado material. Sim, isso é natural, pois cada um sabe o sacrifício que fazemos todos os dias para conquistar o que queremos. Depois vem as chacotas, piadinhas de mal gosto, gozações. Vem o sentimento de vergonha. É uma sensação constrangedora na hora de registrar o Boletim de Ocorrência ter que contar o que realmente aconteceu. Chegar no banco e ao falar com o gerente da conta e ficar olhando atentamente a cara de espanto misturando com um leve toque de preconceito.
Infelizmente esse tipo de ocorrência não é tão comentado devido ao preconceito e a vergonha. Muitas pessoas que sofrem esse crime não registram ocorrência pois de uma forma ou outra não podem figurar nas estatísticas nem reclamar justiça.
Até mesmo, enquanto escrevia este texto , pensei diversas vezes em deletar tudo, outras pensei em continuar mas porém contando ínfimos detalhes , tentando preservar ao máximo a minha reputação.
Mas depois , parei e fiquei pensando se essa atitude não seria mais uma atitude covarde, omissa.
Infelizmente aconteceu, não tem como voltar no tempo e mudar tudo. Se aconteceu é por que era necessário que eu enfrentasse tudo isso. O aprendizado foi muito rico, apesar de doloroso.
Essa semana, com a cabeça e o corpo mais calmo, comecei a pesquisar pela internet assuntos relacionado ao golpe Boa Noite Cinderela e li um texto cujo o título sintetiza de uma forma precisa : " Boa Noite Cinderela: o golpe das pessoas adormecidas ( e mudas ). "
Um texto corajoso , que serviu para que eu reavaliasse se continuaria a escrever ou largaria tudo para chorar covardemente trancado no meu mundo particular.
Fiquei algumas horas lendo o texto. O título ficou na minha mente como um mantra. A todo momento ficava relembrando, deglutindo todas as informações.
Fiquei algumas horas lendo o texto. O título ficou na minha mente como um mantra. A todo momento ficava relembrando, deglutindo todas as informações.
Quem comete o crime age impunemente, pois sabe que a vítima nunca irá se manifestar nem registrar um boletim de ocorrência, temendo ter que assumir o que realmente ela é, a vergonha e o medo superam o senso da justiça.
Com certeza esse monstro travestido de ser humano atacará novamente e não seria espantoso encontrá-lo no mesmo local onde tudo começou.
Agora é tocar a vida com a cabeça erguida e renascer sereno e forte. É claro que serei alvo de piadinhas e gozações, sim serei , não me importo com isso, talvez isso já esteja ocorrendo, mas tudo bem o recado está dado e isso é o mais importante de tudo: NÃO FICAR CALADO!